google-site-verification: google1dd19db594c6c3b6.html Crônicas do Peró: CINE SANTO ANTONIO

terça-feira, 11 de outubro de 2011

CINE SANTO ANTONIO

    O cinema tinha acabado de ser reformado, era o novo Cine Santo Antonio, foi praticamente todo reconstruído e como ficou grande, era um marco, um monumento, na nossa pequena e pacata Paraibuna. Que na época não passava de dez mil habitantes, o que não mudou muito nesses longos anos; mas o cinema era enorme, pelo menos aos meus olhos de criança, sua fachada de pedra que dura até hoje, sua bomboniere com aquelas guloseimas com todo o sabor da infância, a cortina vermelha que nos separava do grande salão e a enorme tela branca acima do palco, onde sonhos eram projetados; a escada no Hall de entrada que nos levava ao andar de cima, onde ficava o que na época chamávamos de poleiro e também a sala de projeção, onde fachos de luzes levavam imagens inesquecíveis. Era tudo lindo, mas um belo dia chegou a televisão, começando o declínio, era o início do fim de uma era; mais bela, mais romântica. A cidade com o fim de seu cinema, começou a perder, uma parte de sua alma, o que jamais recuperou.
    Minha mãe vivia reclamando, que meu pai há tempos não a levava ao cinema, dizia com palavras duras e em tons fortes, que quando namoravam iam sempre ao cinema, quer em Paraibuna ou em São José dos Campos; agora fazia anos que ele não a levava, ela que adorava assistir os filmes em cartaz na época. Não sei dizer o porque me pai, não gostava mais de ir ao cinema, talvez não gostasse mais de sair de casa a noite ou por passar o dia trabalhando na escola.
    Um dia de tanto ela insistir ou porque aquele filme era muito bom e famoso, propôs nos levar todos nós, os dois, mais eu e meu irmão mais novo. Era sábado, o filme em cartaz "Noviça rebelde", grande clássico na época e até hoje emocionando gerações, ganhador de cinco "Oscar". Naquele dia só ia ter uma sessão, pois o filme tinha mais de três horas de projeção. De manhã minha mãe foi se arrumar toda, indo na cabeleireira e também arrumando as unhas dos pés e das mãos; muito laquê e muito esmaltes depois, foi se vestir, tornando na época o fato de ir ao cinema uma grande produção. Também nos produziu, pondo em nós nossas melhores roupas.
    Parece que aquele dia toda a cidade teve a mesma ideia, o filme era mesmo muito bom, pois quando lá chegamos a fila dobrava a esquina do quarteirão. Quanta gente bonita, todos muito bem vestidos, parecia e era uma verdadeira festa. Papai nos pôs ao lado da entrada e foi ficar na fila dos ingressos, para mim e meu irmão, aquilo foi uma eternidade, tínhamos medo que os ingressos acabassem e não conseguíssemos entrar. Os ingressos não acabaram, nem nós ficamos de fora, assistimos aquele filme que até hoje, muitos e muitos anos depois, me emociona, trazendo recordações de dias felizes de uma infância feliz, marcada por muitos momentos maravilhosos e também por alguns tristes; momentos prazerosos que um sonhador nos proporcionava.
    Alguns de vocês devem ter assistido ao filme "Cinema Paradiso" de Giuseppe Tornatore; nós também aqui tivemos o personagem "Alfredo", ele se chamava Celso Ladeira, o dono do Cine Santo Antonio, o sonhador que proporcionava há sua cidade e a toda sua gente, os sonhos que somente um cinema proporciona, coitados daqueles que hoje nas suas infâncias, nas incontáveis pequenas e médias cidades do país, não tiveram o prazer de ter um cinema, um Cine Santo Antonio, para vivenciar os sonhos  de infâncias que nenhuma televisão, nenhum computador e nenhum shopping center jamais proporcionou ou proporcionará.
    Para mim, quase meio século depois, ainda sinto o gosto de balas e jujubas, os prazeres dos sonhos; fico como o personagem "Toto" de "Cinema Paradiso", maravilhado e extasiado, por ter visto e vivido tudo aquilo. 


                                                    AMÉM!


2 comentários:

  1. Cláudio,

    Poxa! Que belo texto. Emocionante.

    Abraço.

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  2. Gloriosos aqueles tempos, Claudio,Nessa época já estavam acabando com os disputadissimos seriados das matines de domingo. Permanecia ainda o famoso Canal 100 trazendo reportagens e jogos importantes. Saudoso é tambem o poleiro onde assistiamos filmes enquanto o Cine Sto Antonio era reformado. Ficava ali onde é hoje a Casa Paroquial
    E tinha Tarzan, Mazzaropi e os Bang bangs em que se via até a sombra da câmera que filmava a cena.Noviça já assisti em Taubaté quando lançado e no auge dos meus 16 anos fui la ver umas 4 ou 5 vezes. Era fã da Angela Cartwright que depois ficou um bom tempo Perdida no Espaço. Bom tempos aquelas em que disputavamos aquelas duras cadeiras modernas...
    J.V.

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